AS FRONTEIRAS ENTRE FILOSOFIA E LITERATURA: SOBRE A ESCRITA ENSAÍSTICA EM THEODOR ADORNO1

 


 

Mariana Andrade2

 

Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC)

 

E-mail: mariana@andrade.la

 


 


 

RESUMO

 


 


 

Os filósofos contemporâneos reivindicaram para a filosofia a atividade essencial da reflexão autocrítica. A crítica da razão e a crítica ao ambicioso projeto moderno trouxeram à tona a necessidade desse exercício autocrítico do pensar filosófico. Uma das questões que foram postas, diz respeito às relações recíprocas entre pensamento e linguagem. Nesse sentido, a reflexão sobre a forma da apresentação (Darstellung) da filosofia, torna-se fundamental e desemboca, por sua vez, na discussão sobre as relações entre filosofia e literatura. Theodor Adorno foi um desses filósofos contemporâneos que insistiram na necessidade da filosofia pensar sobre sua própria forma de exposição. Adorno propõe a discussão do problema da forma de apresentação da filosofia através de uma investigação sobre o ensaio no seu texto intitulado O ensaio como forma. O filósofo da Escola de Frankfurt desenvolve observações sobre as particularidades da forma ensaística, evidenciando a maneira como as mesmas se relacionam com o pensamento filosófico. No desenvolvimento de seu escrito, que culmina na afirmação do ensaio como a forma por excelência do pensamento filosófico, Adorno expõe críticas à postura positivista, ao método cartesiano e ao caráter totalizante dos sistemas filosóficos. Interessa-nos, pois, investigar as fronteiras entre filosofia e literatura e o modo como Adorno relaciona a autorreflexão da atividade filosófica com a escrita ensaística. Por esta razão, o presente trabalho propõe uma investigação das observações que o filósofo alemão faz em O ensaio como forma, evidenciando as relações entre filosofia e literatura no pensamento de Theodor Adorno.

 


 

Palavras-chave: Adorno. Ensaio. Filosofia. Literatura.

 


 

1 O presente trabalho é parte das pesquisas desenvolvidas na Iniciação Científica (ICV-UESC 2010/2011) e no Trabalho de Conclusão de Curso (defendido e aprovado em 21 de junho de 2013) com a orientação da Prof.ª Dr.ª Carla Milani Damião (UFG).

 

2 Graduada em Filosofia pela Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC).

 



Sobre a Educação e a Guerra Fria

Por Rômulo Macêdo

Perguntar pelas influências das concepções dos dois blocos da Guerra Fria na educação seria algo muito vago e passível de várias abordagens diversas. O capitalista poderia apontar para os riscos da influência socialista na educação, como o do comprometimento da liberdade, por exemplo, e justificar sua posição, bem como o socialista poderia discorrer sobre possíveis aspectos positivos e apontar para a educação cubana para justificar sua posição.
Todavia, se perguntamos se, historicamente, a educação sofreu influências teóricas (ou seja, uma pergunta que se volta para o aspecto teórico especificamente, inda que isso, evidente e necessariamente, redunde em conseqüências concretas e históricas no âmbito prático. A resposta da pergunta pelo aspecto prático dessa influência teria que ser extensa, dada a amplitude do campo das considerações) das doutrinas dos dois blocos da Guerra Fria, verificaremos que a pedagogia, de fato, recebeu tal influência, até mesmo pela razão de que o contexto histórico exerce incontestável influência sobre os diversos segmentos da atividade humana, inclusive, sobre a filosofia e a educação, a qual, por sua vez, trabalha com os conteúdos dos diversos escritores e autores dos quais dispõe. Fala-se em investimento em educação no Brasil, mas não se investe nos escritores, aqueles que produzem os livros, elemento imprescindível para que haja ensino de caráter pleno.
Esse contexto da Guerra Fria, no século XX, influi teoricamente na educação¹, impondo-lhe um dever de difundir tais concepções ideológico-políticas, o que caracteriza propriamente a ideologia. Discordo do relacionar esse processo diretamente com a filosofia, visto que ideologia e filosofia são coisas distintas. Inda que tais concepções procedam da filosofia, de Marx, de Adam Smith, etc., o caráter que têm na Guerra Fria é ideológico-político. Concordo, porém, que os dois universos, tanto do socialismo como do capitalismo, diferiam muito de suas autodescrições, e isso constatamos pelas suas contradições visíveis.
A pedagogia sofreu influência dos dois blocos antagônicos. Houve uma pedagogia de Estado, embasada nas obras de Marx, e inflexível e dogmática, ainda que posteriormente tenha sido corrigida nas instituições, e por outro lado, a pedagogia esteve envolvida na defesa da concepção capitalista (tão bem criticada por Marx, no que tange à exploração da mai9s-valia, por exemplo, apesar de que ele não apresente propostas viáveis, visto que uma teoria política que propõe um desaparecimento do Estado não pode ser séria...), apregoando a propriedade privada, a autonomia do indivíduo, a livre-concorrência, a qual é injusta e desumana, mas também a democracia liberal, a liberdade de imprensa (e geral), etc. A educação, pois, colocou-se a serviço desses princípios, o que é inadmissível, visto que a pedagogia, enquanto ciência, não deve ter um caráter ideológico, propagandista, de divulgar dogmas, sejam quais forem, capitalistas ou marxistas, mas um caráter de imparcialidade, de preparar os indivíduos para que sejam capazes de realizar reflexões imparciais, dando primazia à verdade, e não à facciosidade. E ainda que no próprio iluminismo, a Enciclopédia estivesse longe de ser imparcial, estando também a serviço da propagação das concepções políticas dos autores dos verbetes políticos, o que não é, como apontamos, fazer uma ciência política imparcial, inda que observemos isso na história, longe de proceder como Maquiavel, que dizia: "a experiência demonstra...", defendemos que a razão demonstra que é justo buscar o ideal da imparcialidade, por amor à verdade, em vez de abandonarmos a busca ética pelo que é verdadeiro e justo, alegando que os homens têm agido de maneira diversa, como se isso significasse a impossibilidade de alcançar e tornar concreto aquilo que é razoável.
Quer dizer, verificamos que o meio é um fator essencial, de influência significativa, tanto em setores como o da arte, como na filosofia e na educação. E longe de defender algum tipo de fatalismo, defendo que, em educação (e em muitas outras áreas) é preciso discernir entre aquilo que provém do meio, do contexto, da conjuntura atual, e aquilo que é inerente à própria ciência da educação universalmente, a fim de que, separando tais elementos, não incorramos no erro de estar a serviço da propagação de possíveis dogmas, mas busquemos tratar das questões que se levantam no decorrer da história com imparcialidade, o que é justo e razoável, e manifesta amor à verdade.

¹ Cambi:1999, 600